5.2 Fórmula Ford

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5. Depois da "Fórmula-Vê" ("Fórmula-Brasil", "VW", "Super-Vê")

    5.1. "Fórmula-Brasil" (texto de Carlos de Paula)

     5.2. "Fórmula-Ford"   (texto de Carlos de Paula)

     5.3. "Super-Vê" - o retorno da "Fórmula-Vê" (texto de Carlos de Paula)

 

 

FÓRMULA-FORD – FASE INICIAL 1971 A 1975

Por Carlos de Paula

O sucesso inicial de Emerson Fittipaldi se deu na Fórmula-Ford, categoria que havia sido criada em 1967, na Inglaterra, como categoria barata, de base, para pilotos que tencionavam seguir a trilha F-3-F-2-F1. Foi nesses carrinhos que se deu o primeiro sucesso brasileiro na Europa desde 1959, quando Ricardo Achcar ganhou uma prova em 1968. Emerson e Luis Pereira Bueno tiveram bastante sucesso na categoria em 1969, com Emerson dando continuidade à sua carreira internacional, e Luisinho voltando ao Brasil, para consolidar a sua posição de principal piloto do automobilismo doméstico até 1975.

Os promotores de corrida no Brasil pressentiam que era o momento de internacionalizar o automobilismo brasileiro, e assim promoveu-se o primeiro torneio intenacional de F-Ford, com patrocínio de uma empresa aérea britânica (a BUA), no início de 1970. Com corridas no recém aberto Interlagos, e também em Curitiba, Rio de Janeiro, e até no longínquo, e "infreqüentemente" usado, autódromo de Fortaleza, o torneio foi um sucesso, sendo ganho por Emerson Fittipaldi. Diversos outros pilotos brasileiros participaram do torneio, entre os quais, Jose Carlos Pace, Wilson Fittipaldi Jr, Luis Pereira Bueno, Fritz Jordan e Francisco Lameirão.

Luis Antonio Grecco, o chefe da saudosa equipe Willys, agora chefiava o que restara da equipe, rebatizada Bino (homenagem justa a Christian Bino Heins). Desde que tentara lançar um F-3 brasileiro, em 1965, Grecco nutria a esperança de formar uma categoria brasileira de monopostos que capacitasse os nossos pilotos para a transição ao automobilismo mais sério na Europa. A primeira tentativa, com a Formula Junior em 1962, foi um fracasso (leia mais sobre o assunto aqui) A tentativa de Grecco também fracassou, e a atividade do F-3 brasileiro, o Gávea, se resumiu a uma participação nos 500 km de Interlagos de 1965 (foi segundo) e na temporada argentina de F-3 de 1966 (com pouco sucesso, contra concorrência internacional). Depois, foi aposentado. A terceira tentativa, a F-Ve, também fracassou, entre outras razões devido ao fechamento do autódromo de Interlagos, para reformas, em 1968. Foram realizados dois campeonatos, e sem muito apoio da VW, a categoria foi extinta, depois de um torneio carioca em 1969. (Houve uma tentativa de reaviva-la em, 1970, com uma acanhada prova em Interlagos, com a participação de poucos pilotos).

Como a Ford havia “herdado” o projeto do Carro M da Willys, rebatizando-o Corcel, agora tinha um carro de baixa cilindrada, com mecânica também herdada da Renault. Grecco, que tinha boas relações com a Ford, sugeriu a montagem de uma categoria de monopostos, com mecânica Corcel, que correria a partir de 1971. Para a Ford, seria interessante, já que o Corcel (e nenhum outro produto seu, na época- o Galaxie e Aero ex-Willys) não parecia ter futuro auspicioso como carro de corrida (e efetivamente, não teve, apesar do monomocar Torneio Corcel, que durou dois anos). Seria uma maneira de a Ford capitalizar o sucesso da temporada internacional e manter uma imagem esportiva. Assim foi criada, em síntese, a F-Ford Brasil.

 

Chiquinho Lameirão, campeão de 1971 

Baseando-se nos modelos de F-Ford trazidos para a temporada, Grecco montou 25 Binos, que foram vendidos a pilotos de São Paulo, Brasília, e principalmente, Rio Grande do Sul. Merlyn, Lotus e Titans que ficaram da temporada, também foi usados nessa fase inicial da F-Ford. E realizaram-se 4 etapas no primeiro ano da F-Ford, algumas como provas de apoio da Temporada de F-2. A Equipe Hollywood, que já fazia sucesso com as suas Porsche no Brasil, teve também sucesso imediato na F-Ford. Chico Lameirão, que tivera experiência dirigindo F-Ford na Europa, em 1970, foi piloto da Hollywood e levou três corridas, inclusive a inaugural, e outro paulista, Pedro Victor de Lamare, uma. Foram eles, respectivamente, campeão e vice da primeira temporada de F-Ford. Os gaúchos, apesar da superioridade numérica, ocuparam posições intermediárias, mas já se destacavam, entre eles, Clovis de Moraes, ás do Kart sulista, Claudio Mueller e Pedro Carneiro Pereira.

Na temporada de 1972, o campeão Lameirão mudou de equipe, passando para a Bino-Motorádio. Seu lugar na Hollywood foi ocupado pelo brasiliense Alex Dias Ribeiro, que tinha como companheiro de equipe Jose Lotfi. Outro carro patrocinado por cigarros era o carro da Equipe Shelton, com Clovis de Moraes. Foram estes os protagonistas do campeonato, embora Clovis de Moraes tenha tido certa vantagem sobre Alex. Só estes dois ganharam corridas.

 

Alex Dias Ribeiro e Julio Caio, 1973 (foto cortesia obvio.ind.br)

Pouca coisa mudou para 1973, exceto que agora a Motoradio tinha um segundo carro, para Angi Munhoz, e a Hollywood havia trocado de segundo piloto, alinhando Julio Caio de Azevedo Marques. A temporada foi bem mais competitiva do que as outras duas, e três pilotos ganharam corridas: Alex (4), Clovis (2) e Lameirão (1). O carro de Lameirão tinha requintes aerodinâmicos, inclusive radiadores laterais (os outros tinham na frente), e bico em cunha. O carro de Alex também tinha desenho próprio. Além de Julio Caio, que provou ser rápido, outro piloto despontou como promessa: Francisco Feoli, gaúcho. E outros pilotos de renome participaram da temporada, entre os quais Mauricio Chulam, Arthur Bragantini e Jose Pedro Chateaubriand. A Heve também estreou como construtor.

1974 não foi um bom ano para a F-Ford, e foi quase covardia. Alex fora correr na Europa, e a Hollywood acabou contratando Clovis de Moraes. Dois outros gaúchos foram contratados, Claudio Mueller e Enio Sandler. Lameirão agora corria com um Polar. Fora a subida de produção de Amedeo Ferri, que mais tarde se tornaria ás da categoria, a temporada foi fraca. Clovis de Moraes ganhou as cinco etapas, e, sem muita explicação, a CBA decidiu dar pontos duplos para a última etapa. Com isso, Chico Lameirão conseguiu atingir o terceiro lugar (pelo terceiro ano seguido) no certame, graças ao segundo lugar na prova. Só isso impediu a Hollywood de fazer 1-2-3 no campeonato.

Houve uma certa organização nos campeonatos brasileiros, em 1975, em grande parte devido ao apoio da Caixa Econômica Federal, que decidira patrocinar a Divisão 4 e 3. O calendário da Divisão 3 foi “casado” com o da Formula Ford, assim facilitando o calendário, com menos datas, mas maior possibilidade de sucesso de público. Clovis de Moraes continuou na Hollywood, e ganhou pela terceira vez o campeonato. Dessa vez teve de suar com o conterrâneo Francisco Feoli, que subira bastante de produção com o seu carro da Equipe Telefunken. No final Clovis ganhou três, Feoli duas, e Raul Natividade, a primeira corrida do ano.

Considero essa temporada o final da primeira fase da F-Ford, por diversas razões. Até meados de 74, a F-Ford ocupava posição de destaque como principal categoria de monopostos no Brasil (até 73, a única). Com a chegada da Super-vê, em 74, e consolidação da mesma, em 75, a F-Ford ficou completamente obscurecida. Para piorar, tanto o rei da F-Ford, Clovis de Moraes, quanto a equipe rainha da categoria a Hollywood, fizeram as suas últimas temporadas em 75. A partir de 76, a F-Ford passou a ter uma posição coadjuvante no automobilismo nacional tendo, entretanto, o mérito de ter revelado diversos pilotos que fariam sucesso no exterior, principalmente, Mauricio Gugelmin, Gil de Ferran e Cristiano da Matta. A categoria sobreviveria até 1996.

Copyright © 2003 Carlos de Paula

  Texto de Carlos de Paula

  Fonte: http://gpdrivers.com/automobilismo2.html , com autorização de Carlos de Paula

 


   

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